Amadeo que foi “para além das expectativas” chegou a Lisboa a 12 deste mês
As notícias mais recentes sobre Amadeo chegam a todo o país, e muito provavelmente a todo o mundo, através da comunicação social. É em Amarante que se encontra o único espaço dedicado a Amadeo, que constantemente homenageia e divulga o legado do artista – o Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso. Desde o início da década de cinquenta do século passado, na então Biblioteca-Museu Municipal Albano Sardoeira, nascia na terra natal do pintor, um lugar para o “acolher”.
Poder-se-á dizer que o século XXI acordou para Amadeo de Souza-Cardoso: em 2001 com a exposição “Amadeo de Souza-Cardoso: um pioneiro do Modernismo em Portugal”, no Museu do Chiado, em Lisboa; em 2006 a exposição “Amadeo de Souza-Cardoso: Diálogo de Vanguardas”, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa; e em 2007 a exposição “Ein Pionier aus Portugal”, no Museu Ernst Barlach, em Hamburgo. O facto de ter sido uma figura “mítica” e “misteriosa” do século passado faz com que exista sempre algo novo para descobrir e novas formas de o abordar.
A nova década do século XXI contou já com um documentário dedicado a Amadeo – “O Segredo mais bem guardado da Arte Moderna”, do luso-francês Christophe Fonseca; uma exposição no Grand Palais de Paris e estamos, agora, no período de interrupção de uma exposição que esteve até ao final do ano de 2016 no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, e que nos próximos dois meses estará no Museu do Chiado, em Lisboa.
Em declarações aos jornalistas, a diretora do Museu Nacional de Soares dos Reis (MNSR), Maria João Vasconcelos, ressalvou que os dados só vão estar fechados nos próximos dias, mas adiantou que acima de 40 mil visitantes foram conhecer mais de perto a obra de Amadeo. Esta afluência que foi “para além das expectativas” lança, por conseguinte, os números de 2016 do único museu nacional do Norte do país para cima dos 90 mil visitantes. Valor que ultrapassa em muito os 54.407 de 2015. A procura dos visitantes foi de tal ordem que o museu alargou o horário de fecho nos últimos dias da exposição. No sábado, 31 de dezembro apenas encerrou às 18h00, antes de seguir viagem para o Museu do Chiado, em Lisboa.
“Eu não sigo escola alguma. As escolas morreram. Nós, os novos, só procuramos agora a originalidade. Sou impressionista, cubista, futurista, abstraccionista? De tudo um pouco. Mas nada disso forma uma escola.” Do jornal O Dia, do artigo de João Moreira de Almeida
Que Amadeo de Souza-Cardoso é uma das grandes figuras do Modernismo Português são muito poucos os que não o sabem. E, sempre que alguém que não é português, se encontra com o legado de Amadeo – fica apaixonado – e procura oportunidades de saber mais e conhecer melhor quem foi o artista e a sua obra.
Na frase que transcrevemos, do próprio Amadeo de Souza-Cardoso, poderá estar o porquê de “Hoje” ser o período ideal para finalmente se compreender a total dimensão de Amadeo. Nesta frase o próprio artista identifica a sua complexidade criativa que renuncia à ideia de escola (de um só enquadramento estético ou estilístico), mas não nega a sua pertença a uma multiplicidade de abordagens que mais tarde a “linha da História” irá identificar como escola Modernista, e que se verificou como um dos momentos mais sistematizadores da arte e que terá dado um caráter quase científico à própria arte.
A afirmação “As escolas morreram” é hoje uma evidência para a Arte Contemporânea. Hoje “os novos” procuram efetivamente a “originalidade”, assumem a complexidade de qualquer artista que vive num mundo global onde o “ser” individual (autor) é a própria escola e onde o artista assume, muitas vezes, não apenas a identidade de autor, mas também de promotor, crítico, educador, curador e espectador da sua própria obra. Com a exposição que esteve patente no Museu Nacional Soares dos Reis e pelo trabalho de investigação que a antecedeu, a faceta de múltiplos papéis em Amadeo fica reforçada e mais evidente. Poderemos dizer que é este o “Porquê” que torna Amadeo tão atual na contemporaneidade?
O Ano de 2017 promete ser mais um ano com muito para falar sobre Amadeo de Souza-Cardoso. O próximo espaço que será moradia para a obra de Amadeo é o Museu do Chiado, em Lisboa. E terminada essa exposição alguns poderão afirmar que fizeram a leitura completa da renovação da viagem da obra de Amadeo. Em vida, Amadeo iniciou o seu percurso em Lisboa (exposição na Gulbenkian em 2006), passou pela exposição em Paris (exposição no Grand Palais em 2016), de seguida, expôs no Porto (exposição no Museu Nacional Soares dos Reis em 2016) e por fim, aconteceu a exposição em Lisboa (exposição no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado em 2017). Há, enfim, todo um ciclo que se renova e se repete!
Os olhos dos amarantinos, em particular, estarão sempre atentos para perceber se muitos dos desafios lançados serão realizados. Nomeadamente a sugestão deixada pela investigadora Margarida Acciaiuoli, durante o Congresso no Porto, defendendo uma revisão da história da arte em Portugal no século XX. Passo que permitiria atribuir uma maior relevância à obra de Amadeo de Souza-Cardoso, indicando este como o ato derradeiro de homenagem ao pintor.
Estamos a um ano do cinquentenário da morte de Amadeo de Souza-Cardoso. Em 2018 será mais um momento ideal para se continuar a prestar homenagem a Amadeo, e Amarante cá estará para que tudo que esteja associado a Amadeo tenha o destaque e relevo merecidos. Assim, 2018 será seguramente mais um ano onde muitas páginas de jornais serão preenchidas com Amadeo.