Quando penso em Pascoaes há um “arrepio cósmico que me percorre”
“É um ato que me enche de enorme gratidão a este município e a quem tem a responsabilidade deste prémio e ao ilustríssimo júri” – foi num tom de agradecimento, com sentimento de honra à mistura, que o poeta, sacerdote e professor universitário, José Tolentino Mendonça, começou por se dirigir à assistência, na cerimónia de entrega do Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes, no passado dia 10 de dezembro.
“Blaise Pascal dizia que quando pensava na infinitude das galáxias, sentia um arrepio. Eu, quando penso em Teixeira de Pascoaes, é esse arrepio cósmico que me percorre porque na poesia ele é uma espécie de grande respiração do mundo”, prosseguiu.
Com muita humildade, como o próprio fez questão de sublinhar, Tolentino Mendonça referiu a importância deste Prémio. “Numa câmara municipal há muitos assuntos para tratar no dia a dia, mas haver um dia do ano, em que o assunto que queremos resgatar e sublinhar é a poesia como assunto humano relevante, parece-me algo muito significativo”. O vencedor do Prémio revelou ainda que o “comove” a forma como os amarantinos se referem a Teixeira de Pascoaes, no sentido em que se referem a um “foco da sua identidade. Os amarantinos sentem que são definidos pela luz e pela sombra do próprio poeta. Como diz Martin Heidegger é poeticamente que o homem habita o mundo e esta verdade é inapagável da nossa condição”.
Para José Luís Gaspar, este galardão “permite manter vivos o legado, os valores e a herança cultural que Teixeira de Pascoaes nos deixou e permite aproximar-nos de grandes nomes da literatura contemporânea nacional. É a memória que mantém vivas as pessoas, razão para estarmos aqui hoje a celebrar Pascoaes.”
Depois da aquisição do espólio, o Município está empenhado na criação e valorização de espaços físicos que permitam a Amarante, à semelhança do que acontece com as artes plásticas, posicionar-se no roteiro da escrita e dos escritores.
José Tolentino Mendonça foi distinguido por unanimidade pelos três elementos do júri que destacou a “coerência interna e a construção de linguagem fortemente visual” da obra “A noite abre meus olhos”.
À semelhança de anos anteriores, após a cerimónia de sessão solene que decorreu no Salão Nobre do Edifício dos Paços do Concelho, seguiu-se o descerramento da placa alusiva a esta edição, na Biblioteca Municipal Albano Sardoeira.
Recorde-se que o prémio Teixeira de Pascoaes foi criado em 1997 pelo Município de Amarante, com o intuito de homenagear e perpetuar a memória de Teixeira de Pascoaes. Resultante da parceria, estabelecida a 27 de março de 2014, entre a Câmara Municipal de Amarante e a Associação Portuguesa de Escritores, surgiu o Grande Prémio Teixeira de Pascoaes que se destina a galardoar anualmente, com um valor de 12.500.00€ (doze mil e quinhentos euros), um livro em português e de um autor português, publicado integralmente e em 1ª edição, no ano anterior.